20 de set. de 2010

E se...

Ilustração: Hélvio

Na semana passada, escrevi aqui no blog sobre um sonho que tive com John Lennon. Na ocasião, disse que vocês entenderiam melhor o porquê do sonho esta semana. Eis a explicação: estava fazenso uma reportagem que pedia a fãs de Beatles que imaginassem como a banda estaria em 2010 caso John e George não tivessem morrido e os quatro tivessem continuado juntos. Acho que me envolvi tanto com a apuração que acabei imaginando, em sonho, essa situação - mas só John entrou na brincadeira. O post sobre o tal sonho (que me sugere que John estaria tocando ainda, em carreira solo, teria tido uma filha e estaria lutando por causas ambientais) está neste link; a reportagem, logo abaixo.

E se...
No ano em que Lennon completaria 70 anos e a banda meio século de sua criação, imaginamos como seria se John e George fossem vivos e os Beatles ainda tocassem juntos

Desde o início do ano, John, Paul, George e Ringo viajam o mundo com a turnê que celebra os 50 anos de existência dos Beatles. O anúncio dos shows, feito de supetão por Lennon no início do ano em sua página no Twitter (twitter.com/lennon), deixou fãs ao redor do mundo histéricos e surpresos, uma vez que a banda vinha se mostrando resistente aos palcos desde a década de 1960 - depois de 1966, quando deixaram de se apresentar ao vivo por causa da gritaria das fãs, os Beatles voltaram aos palcos somente em 1985, no Live Aid, motivados (principalmente John) pelo objetivo central do megafestival de rock de arrecadar recursos para o combate à fome na África. Após esse retorno, a banda ainda fez duas turnês, ambas para divulgar um trabalho lançado no fim da década de 1980 e outro em meados dos anos 1990.
Coerente com esse histórico, a banda foi econômica e decidiu fazer apenas dez disputadíssimos shows ao longo do ano para marcar seu meio século de atividade. São Paulo, Nova York, Tóquio, Sydney e Londres foram algumas das capitais mundiais eleitas para receber as apresentações. Em seu país de origem, um show especial no Hyde Park, ao lado de outros gigantes do rock, como os Rolling Stones e Bob Dylan, e de novos nomes da música, como Black Eyed Peas e Lady Gaga - uma participação controversa. No repertório das apresentações, os hits do auge da beatlemania, clássicos de "Sgt. Peppers..." com novos arranjos e uns poucos sucessos dos discos sucessores de "Abbey Road", gravados entre os anos 1970 e 1990 e nem tão aclamados assim.
Combinando as várias sugestões de beatlemaníacos ouvidos pelo Pampulha e com um pouco mais de imaginação, é mais ou menos assim que os Beatles estariam hoje, caso a banda não tivesse terminado e John e George não tivessem morrido. A brincadeira de imaginar ocorre em um ano emblemático: 2010 marca os 50 anos do início da banda, 40 anos de seu fim, 30 anos da morte e 70 do nascimento de John .
No exercício de futurologia de fãs, músicos e estudiosos, o mais comum foi associar a versão 2010 dos garotos de Liverpool a uma das bandas com mais longevidade do rock. "Se eles não tivessem acabado, acho que virariam uma banda como os Rolling Stones, que se juntam de quatro em quatro anos para gravar álbum, fazer turnê, ganhar dinheiro e depois sair em carreira solo", sugere André Katz, tecladista da banda Sgt. Peppers, cover de Beatles.
Nem tão brilhantes assim
Tornar-se uma banda estável, como os Rolling Stones, seria o destino mais provável dos Beatles. O professor da Universidade Federal de Alagoas, Jeder Janotti Júnior, pesquisador de música popular, explica o porquê. “Ao contrário da música erudita, onde os compositores atingem a maturidade criativa com o avanço da idade, no rock, que está ligado à cultura juvenil, o melhor das bandas é feito no período inicial da carreira. Depois, a tendência é de estabilização”, explica. A consequência, segundo ele, seria um quarteto muito menos inventivo e revolucionário que aquele que o mundo conheceu na década de 1970, opinião compartilhada pelo jornalista e produtor musical Flávio Henrique Silveira. “Acho até que eles teriam feito uns dois discos de repertório inédito, mas as músicas nunca mais teriam o mesmo apelo dos anos 1960. O brilhantismo está condenado aos primeiros anos de carreira”, lamenta. Mesmo assim, Flávio não deixa de fantasiar. “Em 2007, eles teriam regravado o Sgt. Peppers, para celebrar os 40 anos do disco. Seria uma revisita ao álbum, com novos arranjos feitos pelo Paul”.
A ideia de uma grande turnê comemorativa também é dele, que sugeriu como convidados os Rolling Stones, Eric Clapton, e as jovens cantoras Lilly Allen, Joss Stone e Lady Gaga. “Sinal dos novos tempos, em que tudo se mistura”, justifica. Mas talvez os fãs da banda não entendessem nesses termos. Recentemente, Gaga irritou os beatlemaníacos depois que Sean Lennon, filho de John, divulgou em seu Twitter uma foto da cantora tocando o piano que era do músico, durante uma visita à casa de Yoko Ono, viúva de Jonh. Mesmo com a irritação dos fãs, a cantora foi convidada por Yoko a participar de um show em homenagem aos 70 anos de seu marido, nos dias 1º e 2 de outubro, em Los Angeles.
Lelo Zaneti, baixista do Skank, também imagina uma turnê grandiosa, com nomes como Bob Dylan e Black Eyed Peas, com direito a shows no Brasil e desempenho impecável dos fab four. “Hoje existe uma estrutura de som incrível pra shows”, observa, lembrando que um dos motivos que levaram os Beatles a abandonarem o palco, além do barulho provocado pelas fãs, foi a dificuldade de executar ao vivo a crescente complexificação de suas composições.

Bom enquanto durou
Há quem fique com os pés mais próximos do chão e acredite que o fim da banda era mesmo inevitável, dado o temperamento de cada beatle. “Eu acho que eles não teriam saco pra continuar como banda. Cada um deles tem um talento criador tão gigantesco que eles teriam, mesmo, partido para a carreira solo”, defende Lô Borges.
Beto Arreguy, guitarrista e vocalista da banda Hocus Pocus, cover dos ingleses, também acha que o máximo que os fãs veriam em 2010 seriam colaborações de um beatle com outro nos trabalhos solo. “Eu não tenho essa ilusão. Isso foi cogitado na época em que eles se separaram, teve um dinheiro grande, e eles não aceitaram”, lembra, completando que o fim da banda, apesar de inevitável, ocorreu no momento certo. “Vejo como positivo eles terem parado no auge com um disco arrasa quarteirão, o ‘Abbey Road’. Eles terminaram no auge, sem estarem decadentes.”
A observação de Beto encontra eco nas fontes consultadas. Apesar de todos lamentarem o fim da banda, que durou apenas dez anos, o sentimento comum é de que a banda foi extraordinária o suficiente. “As coisas duram o que têm que durar”, resume Flávio.

Em plena atividade
Aos 70 anos, John continuaria conciliando ativismo político e rock’ n’ roll; internet seria incorporada pelo músico
John não imaginava que teria de passar tantas décadas pedindo ao mundo que desse uma chance à paz. O protesto contra a guerra do Vietnã foi só o primeiro de uma série que ele se sentiu obrigado a liderar: ele não poupou de críticas as guerras do Golfo, no início da década de 1990, do Afeganistão e do Iraque, nos anos 2000. Depois de Nixon, nos anos 1970, os governos de Bush "pai" e de Bush "filho" foram seus alvos quando, finalmente, em 2008, acreditou na promessa de Obama e decidiu apoiá-lo.
Na imaginação de músicos e fãs ouvidos pelo Pampulha, esta teria sido a provável trajetória de John se o dia 8 de dezembro de 1980 não tivesse existido na história: naquele dia, o beatle foi morto com quatro tiros, disparados por Mark Chapman, preso até hoje pelo assassinato. Mas, se é consenso o embate de Lennon com os Estados Unidos, os beatlemaníacos divergem sobre o imaginário futuro político de Lennon. O jornalista e produtor musical Flávio Henrique Silveira acredita que os primeiros anos do governo Obama teriam decepcionado o músico. "Talvez fosse o último esforço dele de apoiar um político, uma causa", supõe. André Katz, tecladista da banda Sgt. Peppers, cover de Beatles, enxerga um caminho exatamente oposto. Ao invés de desistir da política, John se envolveria com ela em um nível extremo. "Acho que ele ia acabar se candidatando à presidência dos Estados Unidos. É uma loucura, mas você poderia esperar mil coisas do John", assegura. Lelo Zaneti, baixista do Skank, aposta que John seria um grande parceiro e divulgador do trabalho de Michael Moore, cineasta famoso por seus documentários contra as ações do governo norte-americano.
Mas nem só de política viveria Lennon, no alto de seus 70 anos. "O John estaria fazendo rock’n’ roll de primeira", imagina Beto Arreguy, guitarrista e vocalista da banda Hocus Pocus. A idade também não o impediria de fazer uso de ferramentas modernas. Para Fábio, ele teria um blog polêmico, aos moldes do de Caetano Veloso. Já Gustavo Sampaio, guitarrista da banda Revolver, acha que John não perderia a chance de propagar suas ideias em 140 caracteres. "Quem sabe não teria um twitter.com/lennon, né?", sugere.
No forno
Veja aqui lançamentos relacionados aos Beatles que estão chegando ao mercado.




3 comentários:

  1. Sempre pensei nisso. E hoje acho que foi mesmo melhor o fim do jeito que foi, no clímax. Assim eles não ficaram decadentes. No mais, ótima reportagem! Saiu no Pampulha? Quando?

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  2. Oi Rafa! Obrigada pelo comentário e pelo elogio. A matéria saiu no Pampulha do último sábado, dia 18.

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  3. Acho que eles estariam mesmo como os Stones... Ou como o próprio Paul está... não acho que eles teriam retomado o grupo... O que penso é no que mais poderiam ter criado.

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