5 de jan. de 2011

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Cartum do caderno Ilustríssima, da Folha, de 19/12/10

Não me esqueço de um senhor que estava na minha frente no show do Paul. Em um setor do estádio cujo ingresso custou R$600, lá estava ele, durante as três horas de apresentação: braços esticados, câmera apoiada entre as mãos, gravando tudo. Mas, tenho certeza, ele não viu nada. E não viveu nada.

Ficou o registro tremido e o áudio abafado do show, igual a tantos outros que abundam no YouTube, e passou em branco a oportunidade de viver a experiência única de estar lá e ver, literalmente, com os próprios olhos (e não através do pequeno visor da câmera, com o olhar preocupado em acertar o enquadramento), o que se passava no palco. Afinal, em um show que é idêntico em todo e qualquer canto do mundo, o que faz ele ser diferente e especial é justamente sua presença e envolvimento.

Junto com este senhor, são milhares que, show após show, se deixam acometer por essa síndrome da fotografia-mania e da filmagem-mania. Cuidado. No afã de fazer o registro, você congela o momento, mas perde o calor do instante.

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