11 de abr. de 2011



Era uma noite dedicada a mais uma das megalomanias do U2 - e não estou falando aqui da tão alardeada estrutura que a banda criou para a turnê 360º. A "garra", como foi batizada a engenhoca, teve que dividir sua grandiosidade no 10 de abril de 2011 com mais uma marca na carreira de Bono e cia.: a de turnê mais lucrativa da história. Com o show deste domingo, a banda superou a marca dos Rolling Stones, que até então conseguiram abocanhar a maior bilheteria de todos os tempos em uma turnê: U$550 milhões em A Bigger Band, de 2007.

Mas, num dia de tantos superlativos, o que me pegou de jeito foi o minimalismo do palco circular onde a banda se apresenta. Contrastando com o exagero da garra que o cobre (que, sim, é surpreendente, se estica, sobe, desce), ele é enxuto, pequeno até. O resultado é que a banda não fica perdida e dispersa naquela imensidão dos tradicionais palcos de shows em estádio, cuja extensão vai de uma extremidade a outra da linha onde ficam as traves. Parece o palco de um clube transportado para dentro de um estádio. Acho que é o efeito da tal intimidade que a banda disse querer trazer para essa turnê. Talvez, por ter ficado muito perto do palco, tenha saído com essa percepção - deve ser mais fácil se distrair com os jogos de luz e as imagens frenéticas do telão a metros de distância do palco

Não foi só nesse aspecto, porém, que achei o show "enxuto". Bono maneirou no uso do palco como espaço para comício e nos elogios ao público, que normalmente carregam na demagogia. Quando Bono começou a falar com o público sobre a relação da banda com o Brasil (questionou se, dentre tantas bandas - Radiohead, Killers - o Brasil amaria de verdade o U2), senti um certo gracejo que, lá no fundo, me fez lembrar do irônico MacPhisto, personagem que o cantor encarnou na turnê Zoo TV.

Nada de pieguismo romântico também. No lugar de uma encenação melosa com a fã retirada da plateia (ato fixo nos shows da banda há várias turnês), Bono, desta vez, escolheu uma garota para que ela lesse versos traduzidos de "Beautiful Day", música que a banda tocaria logo em seguida. Houve selinho, sim, mas tão logo houve o beijo, Bono, educadamente, despachou a menina.

Ah, claro. Numa noite comemorativa para a banda, o setlist veio no estilo "a festa é nossa, mas quem ganha o presente são vocês". Foram incluídas raridades no repertório: "Out of Control", do primeiro EP da banda, anterior à estreia em "Boy", e "Zooropa", faixa que abre o disco de mesmo nome, uma cria que a banda ainda não aprendeu a amar da maneira que deveria, mas que, como fã, adoro.

Moral da história: vi ontem um U2 com grandiosidade na medida certa. Não tenho do que reclamar.

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Solidariedade
Matt Bellamy, vocalista do Muse, banda de abertura, subiu ao palco usando uma capa de chuva, quando já não caía mais água no Morumbi. Ok, não é a primeira vez que ele faz isso em uma apresentação da banda, mas fiquei tocada com o ato do cantor, depois de eu ter suportado duas horas debaixo da chuva que lavou o palco antes dos dois shows.

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Mais chuva
Atento ao clima, Bono mudou os versos de "Where the Streets Have no Name". No lugar de "I see the dust cloud disappear without a trace", cantou "I see the rain cloud...". Também emendou "Singing in the Rain" ao final de alguma música que já não me lembro mais qual foi.

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Boa sacada

Em praticamente todos os momentos em que Bono conversou com o público, o telão exibia a tradução simultânea de sua fala. Como ninguém havia pensado nisso antes?

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