O meu mais novo objeto de desejo
O fetiche da mercadoria venceu. Pela primeira vez depois de longos onze anos, senti vontade de comprar um disco. Mais precisamente, não um, mas vários. Todos os seis que vêm na luxuosíssima
caixa comemorativa dos 20 anos do Achtung Baby, do U2. Mas é bom deixar claro que essa vontade que eu já achava que não existia mais ganhou um belo empurrão por conta das bugigangas que recheiam a caixa: livro, revista, pôsteres, adesivos e um óculos de mosca idêntico ao que Bono usava nos shows da turnê do disco, a ultratecnológica (dentro dos limites do início dos anos 90) Zoo TV. Bingo. Estamos diante de um novo filão da indústria da música (vou falar de um segundo, mas ainda chego lá).
Já faz um tempo, essas caixas comemorativas vêm sendo apontadas como um dos caminhos para a indústria do disco compensar as perdas com as vendas de álbuns comuns, arruinadas pela livre circulação de música na internet. Até então não tinha botado muita fé porque esses relançamentos, que normalmente têm uma outra música com versão diferente, logo caíam novamente na internet. Mas eis que chega o U2, sempre muito bom nos negócios, e lota a caixa de coisas que não podem virar download. Mais: coisas que apelam para um dos desejos incontroláveis de fãs mais ardorosos, que é o relacionado à memorabília de seus ídolos.
A ideia não é tão inédita assim: lá em 1967, os Beatles (sempre eles) lançaram junto com o encarte de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band uma folha
(ao lado) com distintivo, bigode e outras imagens que remetiam à iconografia do disco para serem recortados e usados pelso fãs.
Voltando ao presente, o fato é que, apesar do
preço altíssimo (R$1,o54, conforme a cotação do dólar de hoje), um lançamento de disco há muito tempo não me parecia tão interessante. Tenho certeza que a estratégia comercial dessa caixa me acertou em cheio. Se a música é hoje tão gratuita, nada mais inteligente que vender algo extremamente ligado a ela (neste caso, objetos intimamente ligados com o universo de Achtung Baby), mas que não seja somente ela.
O outro filão, de que falei lá em cima, e que parece estar se delineado, é o de transmissão de shows em cinemas. O próprio U2 já fez isso, com o filme U2 3D,
Kylie Minogue fará ainda este mês (26 e 27), assim como o
Red Hot Chili Peppers (30).
Depois de podermos assistir ao vivo a shows em lugares longínquos direto da modesta tela de nossos laptops via YouTube (o Lollapalooza, no último fim de semana, foi só o exemplo mais recente), chegou a hora de vermos a apresentação em tela grande, alta definição, junto com outros fãs. É uma nova experiência de show.
Não sei quanto a você, mas estou gostando desse circo de novidades (apesar de que não irei ver o show de Flea e cia. porque acho que RHCP sem Frusciante é como Buchecha sem Claudinho). Ao contrário de alguns saudosistas, penso que nunca houve uma época tão boa para ser fã de música.
É por isso que rupturas no sistema (seja ele qual for) costumam são boas. Elas conduzem a uma mudança na ordem das coisas, obrigam a repensar e remodelar certos padrões. Tem sido assim nessa era da música digital e gratuita. O mercado teve que reagir e, pelo menos nesses dois aspectos citados acima, finalmente deu respostas interessantes.