9 de ago. de 2011

O Nirvana, o YouTube e o passado





Semana passada, descobri que, desde março, o YouTube hospeda um vídeo com o show completo que o Nirvana fez no Hollywood Rock, em 1993. Descoberta mais inesperada, impossível. Achava que as fitas com a gravação estavam se desintegrando em algum canto obscuro da Globo, responsável pela transmissão de todo o festival e, provavelmente, pouco interessada nesse material (se a dona fosse a MTV, essas imagens já habitado a TV pelo menos ao longo do resto da década de 1990).



O fato é que, há muitos anos, já havia me conformado em nunca ver essa apresentação que se tornou lendário por seus aspectos negativos. Durante anos, ouvi gente que presenciou a apresentação classificá-la como uma das piores e mais avacalhadas da curta existência do Nirvana, muito em função do estado degradante de Kurt que, àquela altura, meses antes de se matar, já estava tomado pelas drogas.



Mas eis que o passado ressurge na tela do meu laptop, me dando a oportunidade de conferir com meus próprios olhos qual foi a do Nirvana naquela noite. E é verdade. O show foi uma esculhambação e todos os méritos são de Kurt, que avacalha com a letra das músicas, com as notas e simplesmente parece não estar no palco. Fiquei imaginando o que se passou pela cabeça do Dave Grohl naquela noite, tendo em vista toda a competência dele, revelada pouco tempo depois com o Foo Fighters.



Ver o show me fez lembrar de um texto que o Álvaro Pereira Júnior publicou na Folha de S. Paulo no fim de semana, chamado "O YouTube Matou o Passado". Resumidamente, ele argumenta que o site transformou o passado em presente. Disponíveis em vídeos para serem checados a qualquer momento, muitos dos fatos ocorridos no passado não seriam mais objeto de dúvida, mistério ou lenda. O lado positivo disso, segundo Álvaro, é a disponibilidade de informação. Mas há também um lado "perverso", ele diz: "Onde não há passado não há ruptura. Se tudo está vivo, nada pode ser superado".



Ainda preciso refletir se o problema é mesmo esse, mas a uma conclusão eu cheguei com essa história toda. Com esse passado feito presente pelo YouTube, ficam menores as possibilidades de romantizar as memórias do passado para manter vivo somente o que for de nosso interesse, assim como diminuem as possibilidades de construí-lo conforme o nosso desejo, no caso de não tê-lo vivido.



No caso do show do Nirvana, a partir de agora, não posso mais dar à banda o benefício da dúvida, nem achar que quem criticou o a apresentação estava reclamando de barriga cheia - ter o Nirvana tocando no Brasil naquele momento, naquela época, não foi pouca coisa. O show foi ruim, é o que as imagens me mostram. Mas ainda assim vale a pena assistir. Pra quem não gastou dinheiro nem teve que se espremer no meio de uma multidão para ver a banda, o show até que fica menos pior no conforto de casa. Pode dar o play.

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