Criolo parece totalmente alheio ao turbilhão que tomou conta de seu nome nos últimos cinco meses, desde o lançamento de seu segundo disco, "Nó na Orelha". A fala serena e bastante reflexiva do rapper paulistano, batizado Kleber Gomes, contrasta radicalmente com a entusiasmada recepção que o mais recente trabalho provocou no público, responsável por um incessante burburinho nas redes sociais, na crítica e na classe artística.
O álbum teve 70 mil downloads somente no site de Criolo - foram 25 mil só nos três primeiros dias e recebeu críticas que o apontam como o melhor lançamento de 2011. Para o autor, rendeu capa de revista e um convite de Caetano Veloso para dividir o palco no "Vídeo Music Brasil", premiação da MTV que ocorre em outubro, na performance de "Não Existe Amor em SP", faixa do disco de maior repercussão até agora.
"O sentimento que eu tenho é de gratidão por todas as pessoas, as que estão comigo de longe e de perto acompanhando essa pequena história de 23 anos", diz Criolo, com a sensatez de quem não perseguia necessariamente um amplo reconhecimento público. Por isso mesmo, não se cansa de repetir nas inúmeras entrevistas que vem dando uma mesma avaliação do momento que vive. "Meus amigos falam que eu fiquei 23 anos plantando e agora é hora da colheita. Eu falo que eu fiquei esse tempo todo cuidando da terra e agora é hora de semear. Daqui a 20 anos, vamos ver se eu sou merecedor", reflete.
Compositor desde os 11, daí a referência constante à "pequena história" de mais de duas décadas, Criolo é MC de longa data na cena do rap paulista e idealizador da Rinha dos MC’s, evento já consolidado em São Paulo que há cinco anos reúne rappers para batalhas de improviso e que ajudou a revelar outro nome que vem se projetando nacionalmente, o rapper Emicida.
Virada
"Nó na Orelha" é um novo capítulo dessa história, e também uma virada na trama, na medida em que não utiliza somente o rap como cenário. O material, um apanhado de composições que Criolo vinha produzindo nos últimos anos, transita por gêneros da música negra como jazz, samba, soul, afrobeat e reggae, e não deixa de trazer faixas de rap em estado bruto, mas sua presença se dá de uma forma mais subjetiva. "O rap está em tudo porque essa é minha formação e meu berço. Ele pode não aparecer enquanto estética, mas está no gesto que antecede a criação: quais são seus desejos, o que te incomoda, o que te alegra. O rap nacional me deu toda essa base", enfatiza.
No palco o músico também experimenta uma nova fase e se diz "um aprendiz" dentro de todo o processo. O MC, que antes dividia o espaço somente com o DJ, agora se apresenta com mais outros seis músicos para dar conta de executar a diversidade do atual repertório. Baixo elétrico e acústico, guitarra, percussão, sax e flauta compõem uma banda grandiosa que, somada à euforia do público em torno do disco e à verve de intérprete de Criolo, que tem surgido no palco usando uma túnica, tem resultado em apresentações esgotadas e calorosas nos clubes da capital paulista.
"Não é um show meu, é um show nosso. A gente se confraterniza, cada um do seu jeito", comenta. Chegou a vez do público mineiro confraternizar.
*Reportagem publicada na edição de 10/09 do Jornal Pampulha
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