Por outro lado, Ringo, que há 50 anos carrega a estrela em seu próprio nome, num ato de altruísmo, se recusa a se colocar diante do público como tal. Divide metade do repertório do show com seus colegas de banda de maneira matematicamente justa: dois números para cada um dos músicos. Tem sido assim há mais de vinte anos. É uma camaradagem das mais bacanas, eu penso, e os músicos não decepcionam tecnicamente. Mas gostaria de ver Ringo se assumir definitivamente como a estrela única de seus shows e tomar conta do repertório. Músicas para segurar um show inteiro e agradar ao menos a uma legião de beatlemaníacos (e não simplesmente a "simpatizantes" dos Beatles) ele tem (os exemplos acima comprovam). Jeito com a plateia também (as piadinhas irônicas muito me agradaram).
À parte o exemplo de idolatria a Ringo que o público de BH deu ontem, o baterista experimentou várias vezes estar no centro da história de sua grande banda. Nos filmes dos Beatles, era o centro das tramas (o portador do anel perseguido pela ceita indiana em "Help", o sumiço antes do show em "A Hard Day's Night", o responsável por levar os três parceiros para Pepperland em "Yellow Submarine"). Foi o único beatle que colaborou com os demais em carreira solo e que, em retribuição, teve a participação dos mesmos três em seus álbuns pós-Beatles. Quando ameaçou deixar a banda, foi recebido no estúdio com sua Ludwig repleta de pétalas de rosas. Era um querido dentro da banda. E continua sendo fora dela. Quero ver Ringo tomar essa condição para si e levar para o palco. Dominar seu show de cabo a rabo.
Parafraseando os versos que John escreveu para Ringo, possivelmente mandando um recado para seu parceiro: Ringo, você é o maior e é melhor você acreditar nisso, baby!
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