Agora que os consoles infantis chamados Starfish estavam por toda parte, qualquer criança capaz de apontar podia baixar músicas - o mais jovem comprador de um disco era um menino de três meses de idade de Atlanta, que tinha comprado uma música do Nine Inch Nails chamada "Ga-ga". Quinze anos de guerra tinham se encerrado com um pico de natalidade, e esses bebês não apenas ressuscitavam uma indústria morta, mas também se tornaram árbitro do sucesso mundial. As bandas não tinham outra alternativa a não ser se reinventar para crianças que ainda nem sabiam falar. Até Biggie tinha lançado mais um álbum póstumo cuja canção título era o remix de uma de suas músicas mais famosas, "Fuck You, Bitch" ("Vai se foder, cachorra"), que fazia as palavras soarem como "You're Big, Chief" ("Você é demais, bacana"), acompanhada por uma foto de Biggie balançando sobre os joelhos um menino de origem indígena com um cocar na cabeça. O Starfish tinha outras funções - pintura a dedo, sistemas de GPS para bebês que estavam aprendendo a andar, correio eletrônico com desenhos -, mas Cara-Ann nunca tinha posto a mão em um desses consoles, e Rebecca e Alex tinham decidido que ela não o faria até completar 5 anos. Eles próprios evitavam usar seus consoles na frente da filha. (p.307)
27 de ago. de 2012
By Priscila Brito on agosto 27, 2012
Terminei de ler "A Visita Cruel do Tempo", livro da norte-americana Jennifer Egan e ganhador do Pulitzer de 2011. Tudo no livro é ótimo, desde a completa falta de linearidade da narrativa até o pano de fundo da história - a indústria musical, passando, obviamente, pela trama em si, que trata do surpreendente efeito da passagem do tempo na vida dos personagens. No último capítulo, que se passa em um futuro parcialmente determinado (202- é a única pista sobre o ano, dada no capítulo anterior), a autora faz um genial exercício de imaginação e projeta a existência do Starfish, aparelho eletrônico que será um dos salvadores da indústria fonográfica, graças à descoberta de um novo público alvo: os bebês. Assustador, mas plausível.
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