Marisa Monte está de volta. Pouco menos de quatro meses depois de esgotar cinco sessões no Palácio das Artes, a cantora repete em BH o show da turnê “Verdade, Uma Ilusão”, no próximo sábado (2), no Chevrolet Hall. “Sentimos que teve muita gente que não pode ver. Então, fechamos uma nova data para atender o público num lugar maior”, justifica Marisa.
O roteiro do show se mantém intacto, privilegiando as composições de seu mais recente disco, “O Que Você Quer Saber de Verdade”, e tendo como coadjuvante projeções de 15 obras de artistas contemporâneos brasileiros em seis telas ao fundo e nas laterais do palco, um dos elementos da nova turnê mais elogiados pela crítica – durante a música que dá nome ao disco, pontos de luz chegam a ser projetados no vestido da cantora.
Entre antigos sucessos (“Beija Eu” e “Amor I Love You”) e canções emprestadas do repertório de outros compositores (“Descalço No Parque”, de Jorge Ben Jor), Marisa também entrega raridades que só podem ser ouvidas na sua voz em plano palco. Caso de “E.C.T”, composição sua em parceria com Nando Reis e Carlinhos Brown dada de presente a Cássia Eller, de quem ela já declarou sentir saudade. 6“A Cássia era uma pessoa que tinha arte livre, pura e verdadeira, tudo o que eu admiro. Isso era muito inspirador pra mim, ela é uma referência e não tem ninguém que ocupe o espaço dela. Se estivesse viva, estaria de olho no que ela estaria fazendo”, confessa.
Na ausência de Cássia, Marisa mira o presente e abre os ouvidos para as novas vozes femininas que acumulam a função de cantoras e compositoras, caminho que ela própria desbravou na história da música brasileira.
“Quase todas as meninas dessa nova geração são compositoras. É um diferencial de uma geração que veio antes da minha. A minha viveu essa transição de uma geração anterior na qual havia grandes cantoras, como a Gal, a Clara e a Elis, mas não eram compositoras. Hoje tem muitas mulheres que fazem um trabalho autoral interessante: a Pitty, a Mallu, a Tulipa”, enumera a cantora ao apontar nomes que poderiam vir a ter seus versos gravados por ela.
A porção intérprete de Marisa ficou lá atrás, em seu primeiro disco, “Marisa Monte” (1989), mas ela não descarta voltar a fazer um trabalho com este perfil. “Eu gosto da ideia, mas não tenho nada de concreto nesse sentido. Eu gosto sempre é de escolher músicas que sejam reais pra mim. Quando se escolhe uma música para cantar, é um relacionamento a longo prazo. Essa música vai fazer parte da sua vida, então importa menos se é minha ou não”, pondera.
Naldo
O que importa é que “as coisas têm que fluir”, diz ela, ao comentar uma possível parceria com o funkeiro Naldo, que em entrevista ao Pampulha no dia 19 de janeiro afirmou ter o desejo de produzir algo com Marisa. “Eu não tenho portas fechadas para ninguém”, completa Marisa, que demonstra admiração pelo cantor-fenômeno. “Ele é muito maneiro, gosto do carisma e da simpatia dele. Você viu aquele vídeo dele na sacada do hotel durante o Carnaval? (Naldo e o rapper norte-americano Will Smith foram ovacionados por uma multidão que os aguardavam diante da sacada do hotel Fasano, no Rio) Ele é muito querido”.
Mais um recado, dentre muitos, para quem torce o nariz para o diálogo aberto que há anos ela vem travando com o popular. “Existe uma certa classe intelectual que tem ciúme quando não sou tão exclusiva e eu não quero compactuar com isso. Eu quero me comunicar com as pessoas e isso está acima desse tipo de julgamento”, conclui.
Marisa Monte
Chevrolet Hall (av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, 4003-5588). Dia 2 (sábado), às 22h. R$ 180 (arquibancada, 3º lote, inteira) e a partir de R$ 760 (mesa para quatro pessoas)
*Entrevista feita por mim e publicada na edição de 23/2 do jornal Pampulha