Foto: Uarlen Valério/O TEMPO |
Acabaram-se as filas dos bares e banheiros, o público que se despertava no fim da pista sumiu. Todo mundo atendeu o chamado do baixo característico de Flea, que fez vibrar o Mega Space na introdução que se emendou em "Can't Stop". O público estava ali mesmo era pra ver o Red Hot Chili Peppers, em coerência com o status de atração principal da noite.
Com 30 anos de carreira e quatro passagens pelo Brasil, Belo Horizonte era ainda um território desconhecido para os californianos. Mas com o público já ganho, o debut em Minas dificilmente daria errado.
O caminho escolhido pela banda para adentrar solo mineiro foi o mesmo dos shows mais recentes: um espaço maior para as músicas do último disco, "I'm With You", e singles da virada dos anos 1990 para os 2000 ("Otherside", "Dani Califórnia", "Californication") para alegria dos fãs mais jovens da banda.
Do repertório do período em que a banda estourou para o mundo, no início dos anos 1990, pouca coisa, mas o básico: "Under the Bridge" e "Give it Away". Musicalmente, o ponto alto do show foi "Higher Ground", cover de Stevie Wonder registrado pela banda no fim dos anos 1980. Bem mais pesada que a versão em disco, ganhou o tom exato para o ao vivo. A jam session entre o percussionista brasileiro Mauro Refosco e o baterista Chad Smith, com referências ao samba, também agradou.
De poucas palavras com o público, a banda delegou a tarefa ao carismático Flea, que apresentou o percussionista brasileiro e, em vão, pediu que os skatistas na rampa ao fundo da pista fizessem manobras. A paisagem combinaria bem com a ensolarada Califórnia da banda, mas, sem entender inglês ou prestar atenção, os skatistas nada fizeram.
Sem dar descanso, a banda arrematou o show com "Around the World" e o hit máximo "Give it Away"' obtendo mais uma resposta calorosa do público. Provou que pouco mudou, apesar de a guitarra ter um rosto novo pela sétima vez (Josh Klinghoffer), e de Flea e o vocalista Anthony Kiedis já não serem tão frenéticos ao vivo quanto antes - a energia permanece na música. A boa forma de Kiedis, 51 anos completados na última sexta, também continua a mesma, dispensando até hoje a camisa.
Pouco mudou também a rotina de quem vai a festivais. As mesmas longas filas para banheiros e bares (cerca de 30 minutos de espera em cada uma), falta de lixeiras e preços altos (R$ 15 por um hambúrguer com pão, carne e queijo), falta de lixeiras. Em determinado momento, a água utilizada para preparar o macarrão instantâneo que era comercializado simplesmente acabou, deixando pra trás uma longa fila de insatisfeitos.
O escoamento do trânsito, ponto crítico comum a grandes eventos, foi também mais uma vez problemático. Se na ida houve lentidão provocada por uma manifestação que interditou uma das vias que dá acesso ao Mega Space, na volta, a saída de cerca de 40 mil pessoas de uma só vez, somada à inexistência de nenhuma opção de transporte público de massa e ao uso praticamente que único de transporte privado - carros (o estacionamento tinha capacidade para 7 mil), vans e táxis -, deram a fórmula para mais lentidão ainda.
O engarrafamento já começava dentro do Mega Space, no estacionamento. O carro da reportagem de O TEMPO gastou 20 minutos para fazer um trajeto de poucos metros. Do lado de fora, no sentido Santa Luzia, uma extensa fila de táxis e vans contratadas pelo público movia-se lentamente. No sentido Belo Horizonte, centenas de pessoas caminhavam no meio da rua, em meio aos carros, tornando mais lento o deslocamento dos veículos - não havia uma via fechada exclusivamente para a passagem de pedestres, como já foi feito em shows no Mineirão, por exemplo. Em meio à confusão de carros e pedestres, um policial militar deu a seguinte "orientação" ao carro da reportagem: "Vai empurrando o pessoal". Fora do palco ainda não tem show.
*Texto produzido para o portal O TEMPO online
0 comentários:
Postar um comentário