24 de fev. de 2014

Muito além do Daft Punk

Human after all, o Daft Punk brinca com uma fronteira que, na prática, vive sendo cruzada

Enquanto o Daft Punk segue fazendo de conta que é uma dupla robô e gente segue fazendo de conta que compra a ideia, tem gente introduzindo robôs e outras linguagens e ferramentas futuristas na música de uma maneira bem mais efetiva.

No próximo dia 8 de abril, você será apresentado ao álbum "Music for Robots", o primeiro da banda Z-Machines. O nome mais adequado para o disco, porém, seria Music from Robots, uma vez que os integrantes são três robôs japoneses - um tecladista, um guitarrista com 72 dedos e um baterista de 22 braços. A iniciativa é do selo inglês Warp Records em parceria com o produtor britânico Squarepusher. A ideia, inicialmente, era apenas explorar as possibilidades da produção musical via robôs, mas o resultado se mostrou surpreendente: em pouco tempo, eles já tinham cinco faixas com instrumentos sendo tocados de uma maneira até então considerada impossível, segundo Squarepusher declarou ao site The Verge.

Uma banda inteiramente formada por robôs não chega a ser novidade. Em 2012, o grupo Compressorhead causou por aí justamente por ser um trio de robôs capaz de tocar clássicos do rock, como "Ace of Spades", do Motorhead. O Z-Machines, porém, dá um passo à frente ao produzir música própria, como a composição abaixo antecipa.



O humano que quiser sentir parte desse mundo de ficção científica do qual o Z-Machines parece ter saído pode se aventurar com o Aura, uma luva que produz música graças a sensores eletromagnéticos acoplados ao dispositivo. A ideia dos desenvolvedores, cientistas da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, era criar um instrumento baseado unicamente no movimento e que se afastasse de qualquer referência de um instrumento tradicional.



Não é ineditismo puro, como o caso do Z-Machines, mas introduz novidades. Por exemplo, lembra um pouco o teremin, instrumento criado pelo russo Leon Theremin, que também é baseado no movimento e dispensava o toque - os sons são emitidos a partir das frequências captadas por antenas acopladas ao instrumento. Mas o Aura parece dar muito mais liberdade de movimento pelo fato de os sensores estarem diretamente acoplados às mãos e não presentes em antenas (no caso do instrumento russo), que limitam a área de movimento de quem o toca.

Lembra também o padman, que o John, do Pato Fu, usava nos primórdios da banda. O dispositivo, também ativado por luvas, era acoplado ao corpo de John e emitia sons sempre que ele movimentava as mãos contra o corpo. Os sons, porém, eram os de um instrumento pré-existente, no caso, uma bateria, o que não é o caso do Aura, que emite um som singular.

Já a banda norte-americana Lord Huron não lança mão de robôs (seus integrantes são todos humanos de carne e osso, até onde se sabe) ou interfaces musicais modernosas, mas também parece ter saído de algum roteiro de ficção científica. O termo-chave aqui é realidade alternativa. Tirando o tom folk das músicas, nenhuma outra referência da banda tem correspondência no mundo real. Inspirações, clipes, nomes das músicas e até o nome do grupo são baseados em um universo cuidadosamente inventado pelo vocalista, Ben Schneider, que anos atrás trabalhou como diretor de arte e desenvolvedor de jogos de realidade alternativa.

No universo paralelo a partir de qual se estrutura o conjunto de referências artísticas da banda, Lord Huron é o protagonista da série de aventuras de western "Lonesome Dreams", escrita pelo romancista norte-americano George Ranger Johnson. São 11 títulos, escritos entre o fim dos anos 1960 e os anos 1970. Tudo fruto da imaginação de Schneider, mas realisticamente documentado em um site dedicado ao autor fictício. O nome da banda pega de empréstimo o nome do protagonista, o disco é batizado com o nome da série e cada uma das 11 faixas tem o nome de um dos livros da série. Nos clipes, Schneider encarna o protagonista Huron e encena, ao lado dos companheiros de banda, as histórias (nunca) contadas nos livros.



As fronteiras entre realidade concreta e paralela podem ficar ainda mais borradas uma vez que o Lord Huron pretende lançar um aplicativo que vai obrigar o fã a visitar um local específico para ter acesso a uma nova música da banda.




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