3 de abr. de 2014

Nando Reis e seus 'rolezinhos' em BH, o disco com Samuel Rosa e a Costa do Marfim na Copa*

São Paulo com Minas, café com leite, Nando com Skank

Se, nos últimos meses, você topou com um ruivo alto e magro nas imediações do bairro Santa Lúcia, onde fica o estúdio Máquina, do Skank, e achou que tinha visto Nando Reis dando um passeio na cidade... você não estava tendo alucinações. O músico reconhece que tem vindo com frequência a Belo Horizonte e a participação nas gravações do 14º disco de inéditas da banda mineira, inclusive, é uma das razões que o têm trazido pra cá. Nos próximos dias, o paulista estará novamente na capital mineira para unir as pontas de uma história que começou aqui.

Nando apresenta sábado (5), no Chevrolet Hall, o show do DVD “Sei Como Foi em BH”, registrado no mesmo palco, em setembro do ano passado. O repertório traz algumas das músicas de seu último disco, “Sei”, e alguns de seus maiores sucessos, todos com arranjos de naipes de metais criados exclusivamente para o show que Nando fez no Rock in Rio, no ano passado, mas que foram apresentados pela primeira vez ao público uma noite antes, em BH – algumas das músicas que Nando mostrou rearranjadas aqui nem chegaram a entrar no set list do festival carioca. “Eu gosto desses marcos que vão trilhando a carreira. BH é uma cidade a que tenho ido como muita frequência e, a cada vez, há mais público. O registro do show aí é único e este não é um show que eu consigo fazer sempre porque a banda fica muito grande, mas será levado praí da forma como ele foi apresentado pela primeira vez. É o retrato de um vínculo”, observa o músico.

Além de um retrato da relação com o público da cidade, o show também é um novo caminho criativo para Nando. O uso de naipes de metais, introduzido por meio da parceria com o trio norte-americano The Freakyboys Horns, que o compositor conheceu durante as gravações de “Sei” em Seattle, era um desejo antigo seu e deve influenciar os próximos trabalhos.

“Eu sempre gostei de metais, mas havia uma dificuldade de encontrar um tipo de arranjo que se encaixasse com os Infernais (banda que acompanha Nando), e eu consegui isso lá em Seattle. Não vou dizer que vou trabalhar agora com essa sonoridade, mas toda experiência musical é absorvida, mesmo que indiretamente. Fatalmente, vou ter arranjos de metais nos próximos discos”,
antecipa.

Samuel Rosa
Nando pretende lançar um álbum em 2015, mas muito antes disso o público terá acesso a material novo do compositor. Previsto para chegar às lojas nos próximos meses, o novo disco do Skank, ainda sem título, vai respeitar a tradição iniciada há 18 anos e trará composições do paulista com Samuel Rosa – desde “O Samba Poconé” (1996), com “É uma Partida de Futebol” –, todos os discos do Skank têm pelo menos uma música assinada pela dupla.

Tendo atingido a maioridade, a parceria Rosa/Reis também alcançou, desta vez, o seu recorde em termos quantitativos. Foram nove músicas escritas pelos dois para o novo trabalho dos mineiros.
“Desta vez, a gente fez tudo com muito mais tempo. Houve mais idas e vindas, ele mandava as melodias, eu fazia os esboços das letras, ele comentava”, conta. Quantas músicas desta safra serão de fato incluídas no disco é uma decisão da banda, mas há chances de, pela primeira vez, os vocais de Nando aparecerem em um disco do Skank. “A gente fez uma coisa que nunca tinha sido feita antes. Eu passei dois dias junto com a banda, em BH, fazendo ajuste das melodias e até gravei algumas coisas cantando. Só não sei se isso vai entrar no disco”.

O que não entrar no novo trabalho pode ficar na fila para ser incluído no desejado disco da dupla que, segundo Nando, ele e Samuel já estiveram perto de gravar, “mas questões da vida me impediram”. As novas composições, por sinal, são um aperitivo para esse disco ainda por fazer, na opinião do paulista. “A maneira de trabalhar com ele (Samuel) nesse disco é muito próxima daquilo que imagino ser um disco nosso”, sugere.

O disco com Samuel entra na fila de projetos de Nando, que inclui ainda um livro com cartas e desenhos feitos por ele para a amiga Cássia Eller (1962-2001). Este último, por enquanto, está em suspenso. “Nenhuma editora se interessou. É um retrato da pobreza do mercado editorial”, critica o músico, que ainda não vislumbra lançar o projeto por vias independentes, caminho que encontrou para sua própria carreira. “Tem tanta coisa pra cuidar, falta dinheiro pra fazer tudo que eu desejo”.

Futebol
Enquanto isso, o torcedor Nando, são-paulino declarado e autor do hino-exaltação “É uma Partida de Futebol”, se prepara para a Copa do Mundo no Brasil. Vai ver Grécia e Costa do Marfim jogarem no Castelão, em Fortaleza, no dia 24 de junho. “Eu queria ir a um jogo de um time africano, principalmente Gana, mas foi o que deu pra comprar”, diz o músico, que deixa entrever um sentimento dúbio em relação ao Mundial. “Como cidadão, me sinto ultrajado. É mais um grande desperdício que o Brasil faz, com antigos vícios de lentidão, de corrupção, de irresponsabilidade”, reclama

Nando Reis
Chevrolet Hall (av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, 4003-5588). Dia 5 (sábado), às 22h. R$ 80 (inteira, pista/arquibancada, 1º lote)

*Texto meu publicado na edição de 29/03 do jornal Pampulha

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