30 de mai. de 2014

Por que existe música da Copa?

Por que tem música da Copa? Por que é a Claudia Leitte que canta? Esclarecendo o mistério em 3, 2, 1...

Por acaso é a primeira resposta para a pergunta do título deste post. Por tradição estabelecida é a segunda. E por causa de uma parceria comercial é a terceira. E é por causa destas três razões, exatamente nesta ordem, que a gente hoje pragueja contra a artificialidade da alegria pré-fabricada e estereotipada de "We Are One", de Pitbull, Jennifer Lopez e Claudia Leitte, tema da Copa no Brasil.

A Copa do Mundo fez seu début em 1930, no Uruguai, mas foi só em 1962, no Chile, que uma música foi adotada como tema da competição pela primeira vez. Foi "El Rock Del Mundial", rockzinho à la Bill Haley, dos The Ramblers, uma das primeiras e mais bem sucedidas bandas de rock chilenas. Considerada hoje uma das canções de maior sucesso na história do Chile, com 2 milhões de cópias vendidas do compacto, a música foi composta apenas com o intuito de captar o clima de euforia do país às vésperas da Copa. Mas o sucesso foi tão grande e imediato que a organização decidiu adotá-la como hino.



Em 1966, a espontaneidade dá lugar à obrigação. Dona Fifa toma as rédeas do processo e começa a dar mostras de sua inaptidão para a tarefa. O mundo já estava tomado de assalto pela invasão britânica liderada por Beatles e Rolling Stones, filhos da sede do mundial daquele ano, a Inglaterra, mas o escolhido para a função foi o britânico Lonnie Donegan, que entregou "World Cup Willie (Where in this World are We Going)". Sim, ele é considerado um patrimônio do skiffle e na Inglaterra só perde para os Beatles em números de hits emplacados nas paradas de sucessos, porém já soava datado àquela altura. Dali em diante, a Fifa oscila entre temas que tentam se aproximar da identidade (ou dos clichês) do país-sede e temas eruditos. Ouça a introdução de "Fútbol México 70", composição do mexicano Roberto do Nascimento para a Copa do tri brasileiro, e tente não pensar em um grupo de mariachis. Ou ouça "Mundial 82" (daquela Copa espanhola de um certo Paolo Rossi), na voz de Plácido Domingo, e tente não pensar em touradas. Impossível.



Até que chegam os anos 1990, o mundo se globaliza e a Copa também. Cresce o número de seleções participantes de 24 para 32, países da Ásia, África e América do Norte ganham mais espaço na competição, e a Fifa parece buscar uma linguagem igualmente mais "global" para as músicas. O pop é quem passa a dar o tom dos temas oficiais na voz de astros internacionalizados. Uma parceria firmada com a gravadora Sony, que desde 1994 é responsável pela produção da música da Copa, tornou essa característica ainda mais aguda. Ricky Martin ("La Copa de La Vida", França, 1998), Anastacia ("Boom", Japão e Coreia, 2002), Toni Braxton ("The Time of Our Lives", Alemanha, 2006) e Shakira ("Waka Waka" - um dos dez vídeos mais vistos da história do YouTube, África do Sul, 2010), todos do elenco da gravadora, cantaram os temas das últimas edições.

Com um viés mais comercial, a música oficial em tempos recentes é responsável também por encabeçar um CD oficial com uma dezena de faixas que supostamente fariam a trilha da competição, mas que ninguém se lembra. No CD da "nossa" Copa tem Santana, Bebel Gilberto, Carlinhos Brown e Shakira outra vez. E, claro, tem também Claudia Leitte (que é da Sony e não Ivete, que é da Universal) pra lembrar a gente que vai ter Copa, sim, e ainda por cima com música ruim.

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