3 notas sobre a morte de David Bowie

O que eu trouxe na bagagem da Colômbia

A(s) pergunta(s) que eu não fiz para Steve Aoki

24 de set. de 2019



Dia desses passou no meu feed de sugestões do YouTube pela enésima vez o clipe de "Con Altura", da Rosalía. Um sinal bem claro do tanto que tenho escutado a cantora recentemente. Mas não só eu. O que me chamou atenção para o thumbnail que nesse ponto da história já é um velho conhecido meu foi a contagem de visualizações. O clipe está na reta final para atingir 1 bilhão de reproduções. No dia em que notei isso, eles estava com aproximadamente 840 milhões de visualizações. Mais ou menos uns dez dias depois, enquanto escrevo este texto, ele já atingiu os 900 milhões.

A primeira vez que ouvi "Con Altura" foi no Lollapalooza Chile, exatos três dias após o seu lançamento. O single foi publicado em todas as plataformas no dia 28 de março, uma quinta, e Rosalía se apresentou no festival em Santiago no dia 31 de março, um domingo.

Quando a multidão reconheceu as primeiras notas, soltou aquele grito eufórico de aprovação, típico de quando está prestes a ouvir um grande sucesso ao vivo. Logo depois, surgiu aquele mar de celulares para registrar o momento, um gesto característico dos dias atuais de quando o público está ouvindo um hit ao vivo. E o refrão todo mundo já sabia de cor. Tal qual um hit.

Eu me lembrei desse momento quando vi os números estratosféricos no YouTube e fiquei feliz de estar lá como testemunha. Numa época em que a gente consegue medir tudo com tanta precisão, em tempo real, pelos views, streams, likes, retweets e outras métricas das grandes plataformas, presenciar in loco uma amostra desse sucesso brotando é como achar um bilhete premiado.

Os números de views no YouTube vão continuar crescendo loucamente sem que eu dê conta de acompanhar, mas a memória daqueles poucos minutos surpreendentes (e do resto do show) no Lolla Chile vai me acompanhar por muito tempo.

21 de set. de 2019


No post que marcou o fim de um hiato longuíssimo neste blog, comentei que um dos episódios que me gerou a inquietação para voltar a escrever aqui foi a viagem que fiz para Manchester no meio do ano. Mais especificamente, a viagem para a Manchester dos Smiths e do Joy Division. Detalhes dos porquês e dos rolês eu contei neste textão pro Festivalando, aquele blog que "me roubou" daqui (mentira, escolhas minhas :P).

8 de set. de 2019



Às vezes o alento para um momento ruim pode começar a partir da compreensão daquilo que se está sentindo. Eu estava outro dia pensando sobre a bagunça desses últimos anos no Brasil e sobre todo o esforço pra se manter ainda de pé nesse cenário de caos, incerteza, com tudo desmoronando aos poucos - mas num ritmo mais rápido neste ano - e comecei a racionalizar os efeitos disso tudo. Uma exaustão decepcionante, porque não vem acompanhada de nenhum resultado, mas sim da percepção de que todo o empenho não é suficiente pra levar a gente pra lugar nenhum. É um desgaste diário pra continuar na mesma. Como correr pra ficar parada - numa perspectiva menos pessimista, já que a sensação, na maioria das vezes, é de estar andando para trás.

E assim Running To Stand Still foi surgindo detrás da parte mais nublada da minha memória, já que nunca foi uma das minhas faixas preferidas do Joshua Tree. Mas estava lá, empoeirada, traduzindo com certa exatidão, nos limites que a interpretação permite, esse sentimento pesado que é preciso carregar pra viver no nosso país nesses anos improváveis, mas reais.

A letra foi inspirada originalmente na epidemia de heroína que atingiu a Dublin do U2 nos anos 1980, mas tem elasticidade o suficiente pra caber em outras realidades de batalha, pessoal ou coletiva, contra forças que parecem ser mais indestrutíveis que a nossa resistência.

Seguimos correndo.
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